Registro XVI — Um porto seguro
Sem fronteiras《registros aleatórios de uma jornada não planejada》
Quando abri os olhos de manhã,
não tinha certeza deste momento.
Também não sentia o sabor
do chocolate quente com leite vegetal e chantilly
de ontem.
Mas existe um eco, um reflexo –
as risadas, a linguagem.
Existe um sopro, um fluxo –
a vida, movimento contínuo.
Nesta cadência, sigo.
Andar contra o sol
faz arder os olhos.
Mas às vezes é necessário
deixar queimar a superfície.
A areia está lisa.
Para onde foram as pegadas de ontem?
Já não importa mais se andei
de chinelos ou de All Star.
Onde estou agora?
Este horizonte é o mesmo?
Nunca é igual.
Uma observadora usa binóculos no deque.
Um pescador, botas de borracha na rebentação.
Entre eles, alguém desenhou um círculo na areia,
construiu um castelo,
tão detalhado que usou folhas de árvore para imitar árvores!
E eu me pergunto:
disso tudo, o que é real?
Olhei para cima e vi uma placa.
“Porto seguro”, eu li.
Caminhei. Subi os degraus.
Atrás daquelas palavras, parei,
como se fossem a legenda da minha fotografia.
Sou meu porto.
Sou seguro.
Para cá, sempre hei de retornar.
Imbituba, SC — Barra de Ibiraquera
Inverno de 2023
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