Registro XV — Medïus
Sem fronteiras《registros aleatórios de uma jornada não planejada》
Pronto. Parece-me, cheguei à metade. E como em qualquer boa história, este é um ponto importante: o ápice. A protagonista já passou por “poucas e boas”, pensou que seria o fim (quando era apenas um recomeço), encontrou pessoas (algumas permanecem na história e de outras já se despediu), descobriu amizades nos mais improváveis lugares, sentiu o coração acelerar e, literalmente, desacelerar (e estava tudo bem), deu gargalhadas, suspirou e em alguns momentos ficou sem reação. Finalmente, encontrou o sábio, e agora percebe-se que sempre houve uma conexão entre Mestre e discípulo – mas algumas ligações são intangíveis, até se materializarem em uma cena de encontro e entrega. O primeiro amor aconteceu arrebatador, com frio na barriga, arrepios e depois flashbacks e lágrimas nos olhos. Agora, o Amor é suave, maduro, belíssimo; ele paira no ar — uma gaivota a planar, sob o céu azul, no vento à beira-mar. O fluxo narrativo percorre os diferentes tons naturais de ser, composto por uma variedade de notas e ritmos, além do silêncio, e provoca emoções múltiplas.
No pico da montanha agora, ela pode escolher uma direção para o olhar, para os pés, para a alma. Nada definitivo, porque é verdade que já navegou por tormentas e calmarias, mas ainda não atravessou o oceano. Ela ainda tem uma África, uma Europa, uma Ásia a explorar.
O acerto está na totalidade das coisas. Histórias são, em si, transformações, sendo as mais cruciais as mais sutis. Imperceptíveis, a não ser para escafandristas da leitura – todos somos escritores e leitores do mundo, mas nem todos mergulhamos nos sentidos.
Na metade da maratona, o corpo físico apresenta desgastes – “a dor é inevitável, o sofrimento é opcional” –, mas agora é o corpo sutil que mantém o êxtase, a loucura, a brincadeira em percurso. A vida é uma prova não tanto intelectual quanto espiritual, é transcendência, uma interseção de mundos, experiências, existências, espaços e tempos.
Pronto. É a metade. Para quem não resiste às perguntas, “e agora, aonde?; com quem?; como?, quando?”, ela responde, não em palavras…
Paciência. Na metade também, a história está apenas começando. Muito barulho já foi feito. Ainda há muito silêncio a ser vivido.
As vidas são processos de cura do espírito em uma espiral cujo polo é Amor. Há que ter coragem para abrir os olhos durante o giro e perceber o que, nos crepúsculos, aguarda a hora de ser e de deixar de ser. No ocaso, o sol parece esconder-se: é ilusão. O tempo, inventamos, na tentativa de controlar o incontrolável.
Pronto. Parece-me o começo, agora.
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