Registro XIX ~ Registro

Sem fronteiras《registros aleatórios de uma jornada não planejada》

Bhuvi Libanio
3 min readJul 20, 2024

Está tudo registrado.
Sem papel, caneta, palco, sem músicas, sem atores.
Está tudo registrado.
Ondas quebram na praia em dia de pouco sol e poucos turistas.
Registre-se.
Em bronze ou pintados no muro, ídolos fazem-nos lembrar pessoas amadas, queridas.
Querido é quem queremos por perto, por todos os lados. Se amada, a pessoa querida já está mais do que perto.
Está tudo registrado.
No coração, sons, aromas, cores, sabores e o toque doce da pele na alma são eternos.
Registrado o pandeiro, o cavaquinho, o violino e a flauta do choro. O bandolim do estudo do sobrinho. O tambor da roda. O sopro do Caboclo. O conselho amoroso da vovó. A rapadura e o café. A panqueca do pai, o bolo da mãe, o Amor de irmão e de irmã.

Registrado, em minhas “retinas tão fatigadas”.
Sou tudo o que vivi.
Registre-se o tempo…
“Estima-se que o nascimento se deu há meio século.”
Mas não existe tempo.
E eu inexisto como solidez absoluta e percorro meu fluxo. Sou rio.
– Tem muita gente precisando do seu sorriso.
Sorrio em um registro fluido.

Quando Amor maiúsculo pega, é eterno, tudo e suficiente.
Registre-se o local…
“Estima-se que tenham se encontrado naquela cidade vizinha.”
Mas não existe espaço.
O mundo é pequeno para os Amantes.
Não há banda, não há papel.
Não há letras nem notas.
Há você.

Um edifício foi construído onde antes havia uma casa, onde antes havia um escritor, que antes escrevia romance e certo tipo de terror.
Antes de quê?
No Cosme Velho, um edifício foi erguido. “Neste local viveu…”

Por quantos dias mais segurarei esta placa?
Imediatamente, elevo meus pensamentos aos céus! Aos seus. Aos nossos.
Em mim e em ti — somos.
Está tudo registrado em nós.
Somos partituras de um todo.

Do alto, vejo automóveis apressados. Expelem tóxicos que adoecem as almas. Corpos adormecidos circulam pelas cidades, bairros, ruas e sobem em elevadores e habitam paredes incapazes de isolar o som dos outros, mas eles se isolam.

– Salve…
– Salve!

Algumas coisas me ocorrem, não as escrevo, elas se perdem — se perdem?
Algumas coisas me ocorrem, não as falo, elas se perdem — se perdem?
Quero dizer-lhe algumas coisas, às vezes não as digo —
Está tudo registrado.
Sem palavras, sou puro sentimento.

O preconceito vem disfarçado de argumento. Outras coisas também se disfarçam. O Amor não. Ele não se esconde. Ele quer viver e deixar viver livre, feliz, sempre agora.
Agora. Há algo registrado, meu Amor —
Aceito sua ação.

Tudo acaba.
Nada acaba como iniciou.
Então o que de fato acaba,
se quando acaba já não é o que começou?

Agradeço. Essa é minha prece.

Bhuvi ~

Imbituba, 19 de julho de 2024, depois de viajar por Belo Horizonte e Rio de Janeiro, depois de lançar o “Livro de inutilidades amorosas”, depois de dizer “I ♡ U”.

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Bhuvi Libanio
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Written by Bhuvi Libanio

Registros aleatórios de uma jornada não planejada.

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