Meu encontro com o Papa
Sou uma pessoa de certa disciplina, sigo uma rotina. Todos os dias, ao meio-dia, paro minha atividade, seleciono o podcast para ouvir o Mestre e começo a cozinhar o almoço. Retomo a tarefa às quatorze horas. Mas hoje foi diferente.
Meu encontro com o Papa estava marcado para treze e trinta. Sou um pouco pequeno príncipe quando o assunto é horário, compromisso: se tu marcas, por exemplo, às treze e trinta, desde as onze já estou a me preparar. Arrumei a bolsa com a toalha que me solicitaram, certifiquei-me de que o cartão estava na carteira e lanchei — bolachas de arroz com abacate e tofu temperado e banana com manteiga de amendoim. Tomei água, fiz hora, conectei o telefone — atualmente ele fica desligado, porque assim a bateria dura mais… — e respondi algumas mensagens. Pronto, já posso sair.
Ainda era cedo, mas preferi não arriscar a ficar em cima da hora, sobretudo, diante da previsão do tempo: vento SSW 26 km/h.
Subi na Rose the Bike e fui. Estávamos prontas para enfrentar os 4,9 km que, segundo o Google, levaria dezesseis minutos para percorrer.
Mas ele não tem parceria com o weather.com, está evidente. Entrei na avenida Sul e logo senti a mão do vento me segurar. Eu pedalava, pedalava, pedalava e deslocava míseros metros. Mais pedal. Mais força. “Por que não comi um açaí?” E o vento sorria. Pedala, pedala, pedala, Bhuvi. “Talvez mais manteiga de amendoim?” E o vento gargalhava. Entrei na rua 2 Leste e pensei… — mentira! Não pensei em nada. Meu foco estava nas pernas — Pedalei, pedalei e um quarteirão me pareceu a eternidade. O vento me pegava de lado. A mente ressurgiu da massa cinzenta e dizia para desistir, mas as pernas acreditavam que iriam conseguir. Avenida Jovino Tomé Marques e depois avenida Central e o vento nunca parou de rir de mim. Rua Vereador Venício Luiz Borges, “benzadeus! Estou chegando. Já consigo ver o posto.” Pedala! Pedala! “O que está acontecendo? Você não sai do lugar!”
Finalmente, empurrei Rose até nosso destino.
Suada, com as pernas bambas e os cabelos desgrenhados, sorri (por trás da máscara) para a enfermeira que me recebeu.
— Marquei com o Papa — eu disse com o pouco de ar que me restava.
Rimos. Quer dizer, ela riu; eu apenas tentei.
Descobri que a toalha é para a gente se cobrir, porque o posto só tem uma camisola para uma média de dez mulheres por dia.
— Você agora pode sentir uma sensação de cólica, mas logo passa.
— Hum…
— Sentiu alguma coisa?
— Não. Esse instrumento que você coloca aí antes…
— Espéculo.
— Incomoda mais, então nem senti o que fez no útero.
— É… E eu usei o menor, porque você não teve parto normal.
— Ah!
— E na relação sexual é diferente…
— Sim… Bem melhor!
— Pois é! Tem todo um preparo que é natural do corpo. E a gente está relaxada, né?
— Então da próxima vez, com a toalha, vou trazer um vinho, umas velas, minha playlist predileta…
Falamos mais algumas bobagens, rimos à beça — porque então eu já conseguia — e em trinta minutos saí do posto, depois de marcar minha mamografia. Em dez minutos cheguei em casa. Nem me lembro de ter pedalado, tive o vento a meu favor.
E eu pensava: viva o SUS!
A propósito, o exame Papanicolau pode ser feito anualmente, assim como a mamografia. Esta, a partir de cinquenta anos de idade, salvo em caso de acompanhamento por questões peculiares da paciente. O sistema é precário — sucateado (sabemos) —, mas funciona, salva vidas e precisa ser cuidado para continuar cuidando da gente.