Delicadeza natural

Bhuvi Libanio
2 min readFeb 9, 2022

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Existe uma delicadeza natural que somente tocamos ao ultrapassarmos as construções que erguemos nesta vida fictícia que construímos. É necessário navegar — ir além, muito além daquelas margens, saltar linhas traçadas e se deixar levar por ventos, pela fluidez das águas, pelas surpresas do momento.

Existe uma delicadeza em tudo; ela é suave e feroz. É voraz e anseia por viver — por ser, do início ao fim — e então se transformar em fragrância, leveza, emoção, em outro estado.

Muitas vezes ouvi que o melhor da festa é esperar por ela. Mas a espera não é ela. E quando tiramos a fantasia, a diversão começa. Simples, genuína, inesperada, profundamente única, irreproduzível.

Senti amor novamente. Mais uma vez mergulhei.
Sinto muito.
Sinto muito tudo isso, sinto tanto,
sinto a ponto de chegar a ser o que sinto.
Sou tanto
que sinto chegar no infinito.

Outro dia eu Amei. Amei você. Amei aquela mulher, Amei aquele homem, Amei aquela criança. Amei o cachorro que vi correr na rua. Amei as gatas daqui, as de lá e os gatos também. Amei a água salgada do mar. O vento forte e a areia que arranhava minha pele, Amei.

Amei, amei e amei.
Amén.

Hoje eu também Amei. Mas agora… Ah! Agora. Agora Amo como nunca antes.

Não. Esperar por ela é impossível. E por isso, ao abrir os olhos de manhã, começo a celebrar. Escolho acolher as dores, abraçar meus amores, sorrir e estudar minhas lições. Escolho fracassar onde a vitória não é minha e deixo ir os conceitos. Escolho despir-me dos sonhos.

Não ando de pijama por aí.

Há uma delicadeza infinita no ser nu. Nas cores, nas flores, nos lábios, nos braços, na mão que toca uma face, ajeita um chapéu e acena:
um oi.

Em mim em você, a delicadeza nos envolve, como notas barrocas de Bach tocadas em um solo de violão. Transformadas. Hac hōra.

E é nesta hora que me despeço. Reverencio.

Meu pronome é nós.
De ti não sentirei saudade, nem de mim. Porque somos a dança divina.
Nus, silenciosos e delicados, somos naturalmente nós.
Impermanentes e eternamente…

(Imbituba, 08 de fevereiro de 2022)

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Written by Bhuvi Libanio

Registros aleatórios de uma jornada não planejada.

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