Borboleta no campo de lavanda
Se eu disser que te amo
Fragmentos de uma história

4
Escrevo para aventar existência. Danço ao som das palavras. Reverencio a sutileza do ser. É preciso apenas um sopro para preencher a alma de Amor.
Quando passei pelas dunas, da janela do carro, vi o seu corpo a bailar. Os braços soltos ao vento e os cabelos inquietos moviam-se no branco sobre azul daquela paisagem. Ouvi uma risada. Sempre aquela risada! E um suspiro que vem de lá, daquele espaço que ecoa o batuque da vida. Ah!
Fechei os olhos — às vezes é melhor não ser invadida pelo mundo. Foi impossível detectar de onde vinha um som que parecia deslizar ao vento para buscar a seiva, o aroma, a semente de Amor.
O movimento de seus braços acolhia a verdade e elevava o espírito. Os grãos de areia tocavam-lhe a pele, quando Deus os soprava. Era Ele quem dançava enquanto o seu corpo de um lado ao outro anunciava aquela Presença.
O tempo acelerou.
Com um braço, você acolheu meu corpo. O outro, procurou minha mão e a ergueu dentro da sua, ao céu. Inspiramos e, ao soltarmos o ar, o vento me fez girar ao redor do seu aroma, das suas cores, do seu silêncio, meu bem-querer.
Aquietei-me e ouvi aquele som outrora indistinto: era de minhas asas. Então meus lábios cantaram o segredo que tanto me faz feliz, palavras frágeis e ainda assim potentes, capazes não apenas de nos unir como dois amantes, mas de nos tornar um.
Um sopro. Um aroma. Um movimento.
Quando digo que te amo, sou uma borboleta no campo de lavanda.
Fragmento 4
Imbituba, 24 de abril de 2021